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Vocês evidentemente já devem estar imaginando que a “competência tecnológica” é algo bem distinto da científica. Não se trata aqui de acumular mais e mais conhecimentos. Os inventores, ao contrário dos acadêmicos, precisam ter antes de mais nada o “tino pro negócio”! Precisam saber “farejar” oportunidades nos produtos (ou serviços), perseguir os clientes insatisfeitos, as assimetrias de mercado, encontrar atributos não percebidos, enfim, diferenciar-se nos meios altamente competitivos em que estão inseridos.
Acontece que, muitas das vezes, ao se projetar os atributos do “produto ideal”, esbarra-se na tecnologia que ainda está muito aquém daquele patamar de desempenho tão almejado… Veja o caso do iPod que só nasceu quando se tornou possível armazenar 1.000 músicas numa caixinha metálica não muito maior, e nem tão pesada, quanto uma caixa de fósforos!
Pois bem, fato é que o universo tecnológico é tão vasto se não for ainda maior que o universo acadêmico. A vigília informacional, portanto, é necessária não só para inovar nos produtos e processos, mas sobretudo uma questão de sobrevivência, dado que um novo “entrante” no seu mercado pode simplemente dizimar a concorrência em questão de meses, tornando os demais players irrelevantes…
Por sua vez, a unidade de informação elementar para “inteligência tecnológica” é a patente, documento que serve para preservar o direito de propriedade intelectual da invenção. São as bases de patentes dos escritórios de países espalhados ao redor do mundo que nos reservam grandes segredos… Vamos desbravá-los?
Seleção das bases de dados tecnológicas
Apesar da maioria dos países signatários dos tratados internacionais de propriedade intelectual serem obrigados a dispor publicamente das suas bases de dados, vemos que ainda hoje poucos oferecem, de fato, plataformas de busca modernas e amigáveis aos usuários como um “Google” da vida…
Aliás, o próprio Google percebeu a “brecha” e lançou sua base de patentes (a Google Patents), compilando incialmente só os dados do escritório americano de patentes (o USPTO), mas com anseios de compilar, gradativamente, todos os escritórios de patentes ao redor do mundo. Sempre ousados estes caras! Fica a dica: não deixe de testar esta base antes de consultar as públicas…
Pois bem. Vamos aos exemplos. Imagine que você é um engenheiro de software e está concluindo a graduação em Stanford. Claro, os anseios acadêmicos não o apetecem neste momento, dado que o seu trabalho de conclusão de curso foi um sucesso e o próprio professor de empreendedorismo o encorajou a buscar investidores para montar uma startup na Vale do Silício. Qualquer analogia é mera coincidência… [hehe]
O primeiro passo, claro, é levantar a lista de bases de dados tecnológicas que você deverá monitorar diuturnamente… Defina suas TAGs: uma principal da aplicação de interesse (ex. internet platform) e outra secundária, porém não menos importante (ex. social network). Efetue as buscas das patentes publicadas no último ano pelo abstract (título ou qualquer campo) em cada uma das bases de dados.
Então, afinal, ordene a lista e escolha evidentemente a base TOP 1. Ah, claro, mantenha sempre uma nacional e outra internacional no seu “farol”. Assim, são mínimas as chances de passar algo relevante desapercebido… Abaixo vemos que a Patent Lens bateu até mesmo o Google entre as bases internacionais para as TAGs selecionadas!
Identificando aplicações de interesse
O desafio, agora, é proceder com a técnica de data mining (mais especificamente text mining) visando obter informação tecnológica relevante. Voltemos ao nosso exemplo prático. Vamos supor que nosso engenheiro de software estivesse apenas iniciando sua monografia… Como saber onde “meter as caras”, ou seja, qual aplicação dentro desse vasto campo tecnológico (software) que mais o interessa?
A mente ordinária iria pelo caminho mais fácil, do viés, da parcialidade ou, porque não dizer, da opinião colegiada. No entanto, um inventor que se preze detesta o senso comum! Num primeiro momento, ele deve sempre abrir as possibilidades em busca da tão sonhada “brecha” tecnológica, aquela que pode lhe propiciar um breve momento de epifania, parafrasendo Steve Blank, nosso grande mestre da inovação acelerada!
Para tal, o procedimento de busca nas bases de dados tecnológicas é muito simples: basta pesquisar com a TAG do campo tecnológico no abstract e identificar TAGs de aplicações de interesse nos títulos dos resultados das patentes mais recentes ou mais relevantes. Por fim, resta pesquisar somente com a TAG da aplicação de interesse escolhida no abstract e computar o resultado do esforço tecnológico: o número de patentes publicadas na área.
Identificando empresas e inventores
Ok, nosso formando (o Zuckerberg, certo?!) já descobriu que a área que estava bombando, neste espaço-tempo, era realmente “internet platform”. Como poderia ele agora descobrir rapidamente quem seriam os players tecnológicos em questão de minutos? Não se engane, pagar consultorias caríssimas para obter de antemão dossiês tecnológicos não cabe no bolso de um fundador de startup!
Veja bem: primero devemos descobrir as empresas e depois os inventores. Na mesma tela que você estava, pesquise com a TAG da aplicação de interesse “internet platform” no abstract e extraia os applicants (que são normalmente empresas) dos resultados das patentes mais recentes ou mais relevantes. Certamente, ao fazer a pesquisa hoje, irá se deparar com vários resultados do facebook, mas não naquela época… [hehe]
Então, proceda com a mesma pesquisa só que utilizando somente o nome da empresa e terá o esforço de desenvolvimento da referida empresa na área. Este dado é lindo, especialmente quando você o projeta num período de 15 a 20 anos… Detalhe importante: aplique exatamente o mesmo procedimento para identificar os inventores que “bombam” na área e, quem sabe, pode chegar num possível partner ou futuro employee!
Evidentemente que existem diversas técnicas complementares de data mining que nos ajudam a encontrar padrões e tendências nestas pesquisas. Uma delas, que eu chamo de competição tecnológica, é muito bacana para verificar o esforço par e passo dos players TOP 5. Você verá, claramente, o aflorar de “novos entrantes” e o esmorecer de gigantes!
Outra visão que me encanta é a constatação inequívoca de quando estamos diante de verdadeiros “breakthroghs tecnológicos”. Nada se compara a uma curva “S” muito bem delineada, mostrando o salto de desempenho de um determinado produto e muitas tecnologias nascerem ou morrerem. Foi assim que vi a Sony despontar e a Kodak esmorecer do mercado de câmeras fotográficas. Hoje é só história de aulinha de inovação… [rss]
Créditos:
Autoria por Ricardo Barreto
Obra no prelo: INTELIGÊNCIA DE VALOR: algoritmos para boas decisões
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