PAZ versus CONFLITOS § 91 – 93

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§ 91

Desejo versus apego. Nem todo desejo é prejudicial ao ser. Na verdade, o desejo quando “puro” é louvável e nos traz felicidade verdadeira. A distinção é muito tênue e se dá justamente pela capacidade ou não de controle sobre o mesmo. Ou seja, quando um desejo é tão intenso que a nossa mente simplesmente não consegue evitá-lo, o mesmo é considerado apego, algo que alimenta o nosso Ego e precisa ser evitado. Já o desejo, se pautado por propósitos geradores de valor, é sutil e perene, sem compulsão e naturalmente recompensado. Via de regra é fonte de regozijo da alma, nossa verdadeira essência divina. Sob esta ótica, portanto, a origem de tal “erupção” dos sentidos, citada anteriormente, decorre sempre de um conflito consciencial, “algo” com que nos deparamos no intercurso existencial que se opõe ao nosso “sistema de crenças” vigente. Isto mesmo, não se enganem, tudo começa na primeira etapa do ciclo da cultura de valor.

§ 92

Desapego versus aversão. Gosto tanto do budismo, em especial pela dualidade de alguns dos seus conceitos que são muito simples, mas nunca tão óbvios quanto os dois lados da mesma moeda… Se o apego é ruim, logo o desapego não o é. No entanto, este não pode se confundir com aversão que é a outra grande causa do sofrimento humano, geradora de conflitos e aniquiladora do estado de paz interior que tanto perseguimos. A sabedoria reside na equanimidade. Trocando em miúdos, seria atribuir a “dose correta” de cada um desses atributos e no momento certo! Pense comigo. Se somos desejosos de “algo” que nos apraz, também experimentamos a sensação contrária sobre algo que nos perturba, certo? Isto é o que chamamos de aversão. Pode ser referente a uma pessoa, ou uma situação corriqueira, um fato político, uma traição, uma briga em família, o cachorro do vizinho, o time de futebol e até mesmo um simples objeto imperfeito. Ah, são tantas as coisas que nos perturbam… Vamos refletir sobre o que se passa em nossa mente para encontrarmos uma maneira de evitar tamanha suscetibilidade aos fatos que, muitas das vezes, não deveriam nos aborrecer. São meras “externalidades”, fora do nosso campo de controle. Na verdade, a origem é simplesmente o “gatilho” de uma reação em cadeia que tem sua causa primária na imperfeição do sistema de crenças do próprio indivíduo, podendo evoluir para obsessões ou fobias patológicas, algo que pensamos sistematicamente e pode comprometer sobremaneira o ciclo da cultura de valor.

§ 93

Psicologia do si mesmo. Vejamos o caso mais simples. Como um mero objeto poderia ser a causa de um conflito existencial? Verdade seja dita: o fato é muito mais comum do que imaginamos. Imagine uma dona de casa que teve sua infância marcada por um lar desestruturado, sem hora para comer, sem hora para dormir, sem privacidade, um entra e sai de gente que nem se conhece direito, enfim, um verdadeiro pardieiro! Depois de adulta, já levando sua vida de forma independente, qual seria a sua “auto defesa” natural? Muito provavelmente acreditaria que sua felicidade se baseia numa vida regrada, com a casa extremamente organizada, os filhos impecáveis na mesa para refeição em família, o marido barbeado e comprometido com a manutenção do lar. Agora imaginem como ficaria o humor desta mesma dona de casa se o seu filho fosse um verdadeiro “pestinha” e que o sofá da sala não durasse mais que 6 meses sem um rasgo de ponta a ponta ou uma mancha de chocolate do tamanho de uma almofada! Eis um exemplo de como um objeto (neste caso o sofá) pode ser o estopim para uma crise de pânico genuína. Sua crença de que uma “vida organizada”, extremamente regrada, previsível e estável, contrária a tudo o que sofreu em sua infância, pode ser abalada por uma criança hiperativa que só estava extravasando sua energia excessiva no sofá da sala. Veremos agora como esta mesma dona de casa poderia se livrar do “trauma do sofá” sem passar pela via crucis dos psicólogos barbitúricos…

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Autoria por Ricardo Barreto

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PAZ versus CONFLITOS § 88 – 90

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§ 88

Do propósito da autoiluminação. Vimos que a total ausência de “ego” nos impele ao estado de consciência búdica chamado de “vacuidade”, em que o ser não mais se condiciona a nada que existe. Está deveras liberto. Sem karma. No entanto, de que adiantaria voltar-se a tal estado se não puder contribuir com a evolução de outros seres? Algo “egoísta” poder-se-ia atribuir como qualidade primordial de tal processo evolutivo. Ao mesmo tempo, como poderiam servir de exemplo para outras consciências sem interagir diretamente com elas? Mais uma das dicotomias de que a metafísica está repleta e por isso mesmo é assim tão instigante… Uma consciência autoiluminada que não se detenha a um propósito evolutivo não pode ter atingido, de fato, a autoiluminação. Buda e Cristo tiveram muitos discípulos, diretos e indiretos. Foram eles os grandes responsáveis pela disseminação das suas doutrinas e se tornaram, assim, seus apóstolos. Ou seja, o propósito maior da autoiluminação é tornar-se uma referência espiritual para iluminar os demais. Não pode haver outro porquê. Neste ponto, diz-se que o ser se tornou uma “consciência-guia”. São consideradas mestres espirituais e somente elas estão aptas a retornarem para o “núcleo” da criação, integrando-se novamente à superconsciência e, ao mesmo tempo, somando esforços a uma coletividade de consciências-guia que continuam a monitorar permanentemente todos os eventos que regem a existência de uma plêiade de consciências a elas conectadas pelo poder do pensamento, único veículo para o qual espaço e tempo não são limítrofes, desde que haja suficiente foco e concentração: o combustível da mente meditativa.

§ 89

Discípulo e mestre. Tal o dilema: é o discípulo que escolhe seu mestre ou o mestre que escolhe seu discípulo? Precisamos, antes de mais nada, descobrir qual seria o critério para uma consciência-guia selecionar seus discípulos e seguidores. Bem difícil especularmos sobre tais premissas que ainda estão muito distantes do nosso atual estágio evolutivo. De qualquer forma, o rigor filosófico nos permite ao menos algumas inferências… Uma delas já foi vista e reside justamente na tendência natural de olharem necessariamente por aqueles aos quais estão conectados pela força do pensamento. Imagine você quantas consciências ao redor do planeta não emitem vibrações diariamente para o Buda ou Jesus Cristo? Me parece muito improvável que estes seres de luz permanecessem indiferentes a tais vibrações, mesmo libertos da egoidade. Evidentemente que não precisam se limitar às coletividades de onde provieram. Podem emanar vibrações geradoras de valor para coletividades inteiras em todo universo e em diferentes estágios evolutivos. Não necessariamente uma coletividade deve ser amparada diretamente por consciências-guia autoiluminadas. Em realidade, consciências de padrões vibratórios inferiores são via de regra direcionadas por planos intermissivos concebidos por consciências-guia mais evoluídas, porém não ainda libertas do ciclo de reencarnações naquele mundo. Ou seja, uma consciência-guia que acabou de libertar-se da necessidade de interação no plano fisíco terrestre pode carecer de interações em outros mundos cuja realidade física seja distinta e cada vez mais sutil. Ao mesmo tempo, ainda distantes da estabilidade plena de que já falamos, podem continuar zelando por consciências dos mundos de onde emigrou. Tais “transmigrações” são a chave dos processos evolutivos dos mundos no intercurso do progresso consciencial rumo à consciência cósmica.

§ 90

Da origem dos conflitos. Que o conflito se origina da ausência de paz é óbvio. Difícil mesmo é descobrir o que de fato nos confere a tão sonhada paz de espírito… Somente ela pode nos livrar do mal e somente ela prescinde de outras coisas para existir. Encontre, portanto, o que nos confere a paz de espírito que assim se extirpará toda e qualquer sorte de conflito. Após muito refletir sobre o tema, cheguei a uma conclusão inusitada: só existe uma origem para todo e qualquer conflito, a ausência de um mestre espiritual. O conflito se dá pela ausência de direção, pela confusão mental, pela falta de rumo na vida! É por isso que Cristo falava que se a sua fé fosse do tamanho de um grão de mostarda conseguiria até mesmo remover montanhas. Isto mesmo, caro leitor. A conclusão tão óbvia é que somente quando encontramos nossa consciência-guia, nosso verdadeiro mestre espiritual, é que cessará a confusão mental, a intempestividade no agir e a letargia e arrependimento no que está por vir. A paz, portanto, advém da fé e a fé só existe se houver alguém que nos aponte o caminho. Fora disso seremos sempre um ser em busca de algo que não sabe exatamente o que é. Um eterno “buscador”, cujo “mundo interior” é tomado pelos arcabouços da mente, num verdadeiro turbilhão de pensamentos, refém dos sentimentos, mais assemelhando-se a um “vulcão” em constante erupção, com ações e hábitos incoerentes com a sua verdadeira essência que nos aproxima de Deus.

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Autoria por Ricardo Barreto

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PAZ versus CONFLITOS § 85 – 87

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§ 85

Da paz. Para mim esta palavra tão pequena, e ao mesmo tempo tão poderosa, encerra o significado mais importante de todos os valores no plano sutil. Parece óbvio, mas certamente o leitor, ao iniciar esta reflexão, deve ter pensado, mesmo que de relance, na tão famosa insígnia da hora derradeira: “descanse em paz”. Mas será que este é realmente o único atributo de quem está em paz? Também ficamos aqui a pensar: será que não seria possível atingir a paz em vida??? Adianto que podemos respirar aliviados: por certo que não é preciso morrer para encontrá-la! Muito pelo contrário… Buda e Cristo, bem como muitos de seus seguidores, e outros profetas de diversas crenças religiosas, já a encontraram e em vida. Uns a chamam de nirvana, outros de comunhão eucarística, ou samádi, mas no fundo a essência é uma só: um estado de profunda conexão com Deus, cujos atributos são revelados pela imutabilidade de condicionantes, vacuidade dos pensamentos e bondade compassiva nas ações.

§ 86

A natureza de Deus. A imutabilidade é algo inatingível? Sim e não. A total ausência de condicionantes nos parece algo surreal porque somos demasiadamente mundanos, apegados aos sentimentos e cheios de preconceitos, aversões e medos oriundo das experiências mal sucedidas do passado. Ou seja, remoemos o passado e receamos o futuro, deixando de lado a única realidade acessível que é o presente. Paradoxalmente, a única verdade é justamente contrária: todas as consciências irão sim atingir algum dia o estado fundamental de estabilidade, a tão sonhada imutabilidade. A única diferença é que o Criador sempre existiu, imutável e absoluto. Nós, não. Dele proviemos em algum ponto no “espaço-tempo”, nos desviamos através de ações geradoras de karma e para ele regressaremos algum dia, regidos pela “lei de atração”. A física e a química quântica também não nos ensinam este mesmo conceito pelos elétrons que eventualmente, após muito orbitarem em suas “meia-vidas”, colapsam novamente ao núcleo e reencontram prótons, nêutrons e quem sabe mais?! As respostas, mesmo das questões filosóficas ou metafísicas consideradas insondáveis por muitos, estão invariavelmente na própria natureza que reflete a perfeição das leis que a regem.1  

§ 87

Um dilema de identidade. Todos aqueles que já se enveredaram nos estudos do budismo original,2 passando pelas primeiras escrituras do cânone em Páli,[*] compiladas por monges que viveram na Índia antes da Era Cristã, bem como do entendimento de escolas mais modernas como a do zen budismo que têm no conceito de “vacuidade” um dos seus pilares, muito provavelmente se depararam com o questionamento fundamental de que, para a total ausência de ego seria realmente preciso abster-se até mesmo da identidade do ser, da alma, dessa nossa unidade indivisível e universal que nos conferi a singularidade da existência. Confesso que, para mim, este foi um ponto de cisão filosófica, considerado um tanto quanto ambíguo para uma doutrina que também se pauta pela lei de causa e efeito: o karma. Voltando à questão da “liberdade infinita” adquirida pelas consciências auto iluminadas, qual seria o sentido de tanto esforço evolutivo se disso resultasse o nada panteísta, ou seja, perde-se a identidade após tanto esforço evolutivo? Mesmo apregoando-se contrários ao niilismo, o estado de liberdade infinita não significa que estas consciências que atingiram a imutabilidade e a vacuidade não irão mais interagir de forma alguma com outros seres. Na verdade, elas passam a interagir permanentemente, mas de forma indireta exercendo o terceiro dos atributos: a bondade compassiva. Tenho de concordar que estes “seres de luz” dificilmente retornam ao plano físico, salvo raríssimas exceções como a vinda do Cristo com o curso intermissivo, em momento crítico para impulsionar a humanidade por demais subjugada.


[*] O páli é uma língua litúrgica utilizada na escola Teravada do budismo. Pertence ao tronco linguístico indo-europeu. É uma língua antiga indiana, próxima daquela falada pelo Buddha. Pode-se dizer que o páli é uma forma simplificada de sânscrito.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

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Saiba mais:

1. Barreto, R. L. LIVROVIVO: 2000 – 2002, Campinas: Editor-Autor, 2003.

2. Bodhi, Bhikkhu, In the Buddha´s words: an anthology of discourses from the Pali canon, 1st ed., Somerville, USA: Wisdom Publications 2005.  

SIMPLICIDADE versus COMPLEXIDADE § 82 – 84

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§ 82

Receptores divinos. Deus “não joga dados”, nem tampouco preveria um universo desprovido de sentido. A chave para este elo de conexão é a consciência cósmica. Mas quais seriam os receptores destes “sinais” enviados pela consciência? Decerto que toda célula é uma entidade viva, cuja inteligência, contrariamente ao nosso corpo físico que se localiza no cérebro, fica difusa na membrana celular onde ocorrem as interações com o meio externo (a biologia molecular assim já o comprovou). De sorte que a energia consciencial pode afetar seus receptores de sinais químicos (átomos, células, moléculas, etc.) através da chamada “mente celular”, assim como pode afetar nossos pensamentos através da “mente humana”.[*] São, portanto, reconhecidos apenas 2 níveis de interação, um macro e outro micro. Bem parecida a teoria da consciência cósmica universal com as dicotomias da física quântica e clássica, não o é?! Continuemos.

§ 83

Das interações interconscienciais. E poderia uma consciência afetar as células de uma outra consciência? Sim e não, uma resposta pra lá de zen… [rss] A consciência só transmite sinais através das células do seu próprio corpo físico. O que pode ocorrer, no entanto, é o que chamamos de interações interconscienciais que podem ocorrer de 2 formas: com a consciência projetada ou não-projetada (veremos mais a frente alguns conceitos da Projeciologia). A não-projetada decorre puramente da força do pensamento, através daquilo que o meu guru Paramahanbsa Yogananda chamava de “afirmações científicas”. A outra necessariamente precisa passar por uma projeção da consciência, seja de forma autônoma (nos sonhos) ou guiada nas projeções lúcidas. De qualquer forma, o importante é que estas interações interconscienciais são as responsáveis por contribuir para “geração” ou “destruição” de valores nos planos físico e/ou sutil.

§ 84

Os poderes de cura. Dê um exemplo de como este fenômeno de interação interconsciencial se processa. São inúmeros os exemplos nos diversos níveis de interação interconsciencial e para cada um dos valores no plano físico, no entanto chama-nos especial atenção o legado de curas físicas realizadas por Jesus Cristo e narradas com riqueza de detalhes na Bíblia. Neste sentido, destaca-se uma situação em que Jesus foi abordado por um oficial romano que lhe pediu para que curasse um companheiro de campanha que não estava presente fisicamente e que estaria morrendo num dos acampamentos do exército. Jesus disse que poderia partir e que, naquele instante, ele estaria curado. Passado algum tempo, de fato o oficial romano, perplexo, relatou que a cura havia sucedido bem naquela hora que esteve com Jesus. Ou seja, certamente Jesus projetou-se conscientemente naquele instante e propiciou o fenômeno através do seu pleno domínio da força cósmica. Assim, finalizamos a primeira parte deste livro: com o poder da energia criadora manifesta em vida! Vamos agora aos recônditos domínios e bem mais vastas perspectivas do plano sutil.


[*] Nos ensinamentos de Kriya Yoga, Paramahansa Yogananda chega a apontar qual é a região do cérebro humano onde ocorre a interação com a energia cósmica. Seria, mais precisamente, a medulla oblongata, apelidada de a “boca de Deus”. Agora, no nível da célula, não se sabe ainda qual seria o ponto de conexão na superfície da membrana celular. Por extrapolação, também deve haver um. Só não o conhecemos ainda!

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Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

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SIMPLICIDADE versus COMPLEXIDADE § 79 – 81

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§ 79

Holística psicossomática. E a tal energia criadora e imanente, oriunda da Fonte, não pode afetar “positivamente” os corpos físicos? Não diretamente, como muitos afirmam. Ela afeta, outrossim, as consciências que, por sua vez, influenciam os corpos físicos, emanando pensamentos que interagem com as células no nível supramolecular, ativando ou desativando determinados mecanismos bioquímicos que podem ser saudáveis ou não. Quem nunca ouviu falar das doenças psicossomáticas ou, por outro lado, das terapias holísticas aplicadas pela medicina corpo-mente? Sim, este é o único canal de intercâmbio entre o plano físico e sutil. Algumas doutrinas religiosas espiritualistas apregoam outros canais evocando teorias complexas e até mesmo cientificamente ousadas, mas no fundo são apenas consciências influenciando os pensamentos de outras consciências em planos distintos. Mesmo nos fenômenos tidos como físicos, notem que é sempre o pensamento que dispara a ação. Veremos em detalhes este mecanismo cognitivo.

Foto em preto e branco com texto preto sobre fundo branco

Descrição gerada automaticamente
Figura. Representação da consciência no século XVII.

§ 80

Da falácia humana. Por que o meio físico é tão importante neste processo se ele é puramente energético? O plano físico não é passível de interação somente com as energias eletromagnéticas e fotoelétricas. Seria uma falácia humana pensar de forma tão rígida e restrita! E olha que muitos cientistas assim o fazem. E é exatamente por isso que reconheço e amo os “teóricos” como Einstein que, via de regra, estão muito além do seu tempo… Pois bem. O meio físico é importante pelo único fato dele propiciar os sinais que são transmitidos pela consciência através dos pensamentos. Lembre-se mais uma vez para reter: a energia criadora que provém da Fonte não age diretamente sobre as “coisas físicas”, senão pelo intermédio da consciência.

§ 81

Sinais dos novos tempos. Agora fiquei curioso… Quais tipos de “sinais” podem ser transmitidos pela nossa consciência? Tanto sinais químicos como energéticos. Aqui precisaremos estender o conceito da física em que a energia está associada à capacidade de qualquer “corpo” de produzir “trabalho”, ação ou movimento. Este conceito fica limitado porque se entende como trabalho a capacidade de promover o deslocamento de um corpo físico. Mas e se assumirmos a existência do corpo sutil, aquele gerado pela consciência, ou melhor, pelos pensamentos? Essa mesma “energia sutil” poderia mover tanto a consciência aos estados projetivos como também ativar a telomerase em processos que afetam a reprodução celular através dos “sinalizadores celulares”. Aqui só precisamos adotar mais um “dogma” e pensar nas células como uma pequena entidade viva como o são. Mas quem falou que a ciência teórica assim não o faz. Existem teorias amplamente aceitas pela comunidade científica que nunca passaram por perto de uma experimentação laboratorial pelo menos por um tempo…

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Autoria por Ricardo Barreto

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SIMPLICIDADE versus COMPLEXIDADE § 76 – 78

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§ 76

A “meia-vida” da alma ou da consciência. Será que nossa gênese pode ser determinada assim como a das estrelas e galáxias? Digo a da alma, o atmã, puro em essência do Criador. Dele, qualquer rastro no plano físico seria um contrassenso, mas da consciência, através da qual ela se manifesta, muito provavelmente… Só não se sabe como, ainda! Alguma “impressão” do momento da criação, na Fonte, nós devemos carregar em nosso “corpo consciencial”. A meia-vida de um átomo não é determinada pela sua atividade radioativa? Por que então, da mesma forma, não poderíamos pensar em determinar a “meia-vida da consciência”, medindo a sua “atividade consciencial”? Parece deveras uma viagem metafísica, certo?! Aguardemos, então, a evolução da ciência neste campo, dos estudos da mente humana, porque, antes de mais nada, precisamos desenvolver os instrumentos capazes de medir esta tal “atividade consciencial” que certamente existe e é detectada pelos seres sensitivos. Ainda não conseguimos sequer comprovar a sua existência, a da consciência e não da alma, muito embora eu acredite piamente nela, assim como também nos dogmas científicos que a sociedade deverá romper para chegar na verdade.

§ 77

Mais sobre o “corpo consciencial”. Já vimos sua distinção com relação à consciência propriamente dita. Também já vimos que a alma é a nossa verdadeira essência divina, enquanto a consciência é apenas o canal de comunicação com a mente que se manifesta, afinal, no plano físico. Já o “corpo consciencial”, por sua vez, é composto pelos campos energéticos (ou vibracionais) gerados pela consciência e não necessariamente pela alma. Lembre-se, existe uma multitude de entidades que podem se manifestar através dela, a começar pelo subconsciente egoico: a principal ilusão existencial gerada pela própria mente. Todo corpo consciencial resulta, portanto, de interferências construtivas e destrutivas de ondas geradas pelos próprios pensamentos e também pela interação com o meio à sua volta que representa um verdadeiro “oceano energético”. Aqui, deve-se observar que os pensamentos são comandados pela consciência, promovendo assim as manifestações físicas. Ressalta-se ainda que nos seres mais evoluídos, aqueles que já romperam os percalços até atingir samadhi,1 a consciência é dirigida quase que absolutamente pela própria alma. Esta, segundo os grandes mestres yogis, é a chave para a transcendência do plano sutil ao físico e vice-versa.

§ 78

Uma mecânica quântica avançada. Isto mesmo. É o que se entende por um meio energético propriamente dito, tal como a ciência o explica, haja vista que não pode haver dois deles numa realidade causal dentro do mesmo plano físico. Após a revolução da mecânica quântica,[*] foi descortinado o universo de interações dos corpos físicos com os campos energéticos gerados pela radiação eletromagnética convencional (o famoso experimento do corpo negro) ou, porque não extrapolar este conceito, para as vibrações geradas pela consciência, através dos pensamentos, continuamente gerados pela mente. É desta energia que falamos, nada além disso. A ciência da meditação já revelou o poder destes pensamentos,2 de modo que a única diferença aqui é que a chamamos de “energia consciencial”.


[*] É a parte da física que analisa o movimento, as variações de energia e as forças que atuam sobre um corpo. Aqui estamos no campo da “ciência de fronteira”, também conhecida por metafísica. Ou seja, atualmente são teorias que não passam de uma especulação filosófica, mas pode ser que um dia até que faça bastante sentido, mesmo que alguns estejam além do seu tempo, já desenhando experimentos dentro desta perspectiva mais ampla de entendimento do universo.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

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Saiba mais:

1. Patanjali, Os yoga sutras de Patanjali, São Paulo: Mantra, 2015.

2. Goleman, D., Davidson, R. J. A ciência da meditação: como transformar o cérebro, a mente e o corpo, Rio de Janeiro: Objetiva, 2017.

SIMPLICIDADE versus COMPLEXIDADE § 73 – 75

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§ 73

Do microcosmos mental ao corpo consciencial. Começamos aqui a nos enveredar mais propriamente nos terrenos da metafísica, mesmo que ainda tratando dos valores no plano físico. Não nos referimos a algo “simples” dentro da compreensão usual, relacionada ao minimalismo estético, nem tampouco do simples fatídico, aquele oriundo do desprendimento das posses ou da humildade em atitudes. Trataremos, outrossim, do “simples” como elemento básico da vida, responsável pela origem dos nossos pensamentos e, claro, de tudo que deles decorre, o que está por detrás do intricado arcabouço das memórias e conexões nervosas que regem a nossa mente, aquela que pode ser considerada o nosso próprio cosmos! Vejam: temos de um lado o “macrocosmo universal” e, do outro, um “microcosmos mental” altamente complexo… Eis o nosso próprio universo: aquele que criamos com a vastidão dos nossos pensamentos e experiências. E é daí que faremos (na segunda parte desta obra) a “ponte” com o plano sutil e os valores conscienciais.

§ 74

Consciência versus corpo consciencial. O simples, portanto, é a consciência, o foco da energia consciencial. É a centelha de vida que anima o nosso corpo físico. O complexo é, por sua vez, o que modula nosso “corpo consciencial”, as intrincadas leis da matéria que possibilitam a manutenção da vida a partir desta “energia vital” ou, como gosto de chamá-la, a “energia criadora”. Sem ela não há pensamentos. Não há percepção da própria existência. É o que nos caracteriza como indivíduos, seres sencientes, ou os pretensos seres humanos. É o que dirige nossa mente e pensamentos. É o que permite nos relacionarmos com outras consciências. É, acima de tudo, o que nos conecta ao “macrocosmo universal”. Ou seja, a simplicidade da consciência nos conecta à complexidade do universo, ao passo que o complexo intrincado da realidade material, o emaranhado do “microcosmos mental”, nos conecta à simplicidade da criação, fruto de uma Fonte infinita em valores conscienciais, de onde provém a energia imanente das criaturas. De onde provém a consciência e para onde ela regressa após o processo de depuração ou iluminação (mais um assunto para a próxima parte desta obra).

§ 75

Da energia vital ou energia criadora. Eis o elemento mais simples do cosmos.[*] Simples porque ela é única e se propaga indefinidamente por qualquer meio, físico ou sutil. É, por este mesmo motivo, onipresente, bicorpórea na sua essência, passível assim de materialização ou espiritualização ao mesmo tempo, a propósito, que para ela não existe… Sem os dualismos característicos da complexidade das leis materiais. É também a única que não é suscetível de interferências. É por este motivo eternamente estável ou imutável. É, finalmente, o elo de ligação vital entre toda e qualquer consciência. E, claro, com explicações inacessíveis aos conhecimentos científicos que detemos no mundo material.


[*] Lembrar que estamos no campo da metafísica, bem distantes das explicações científicas da física quântica para as partículas subatômicas.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

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BELEZA versus FEIURA § 70 – 72

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§ 70

A psicologia das cores e o inconsciente coletivo. É claro que deve haver uma explicação para cada um destes significados das cores. Como profundo admirador da filosofia e, ao mesmo tempo, um entusiasta das “ciências da mente”, tenho de admitir que a resposta perpassa pela compreensão de um fenômeno psíquico-social extremamente complexo que é a formação do “inconsciente coletivo”. Assim como a percepção de valor, a “percepção de beleza” também depende do consenso entre as pessoas que a admiram. E este, muitas das vezes, não se mostra nem um pouco evidente! Em alguns casos até que conseguimos encontrar lógica nos impulsos mais instintivos do ser humano. Vejamos o caso do vermelho. Quem não fica chocado, ou até mesmo paralisado, quando se corta acidentalmente e vê o sangue jorrando e tingindo tudo de vermelho? Já a intimidação do preto deve remontar aos tempos primitivos quando o homo sapiens ainda sequer sabia como fazer uma fogueira e a escuridão o colocava à mercê dos predadores mais vorazes. A luz do dia (representada pelo branco) sempre trazia esperança na vida, com a previsibilidade dos perigos mais iminentes. Em diferentes épocas da humanidade, temos condição de reconhecer estes padrões de comportamento coletivo. Basta um olhar mais atento sobre a motivação primária, ou seja, aquela que afeta nossa consciência ou que ameaça a vida terrena.

§ 71

O dilema da feiura. Ah, todos a ignoram… Diga-me, afinal, o porquê! Identificada a origem da beleza, não é preciso dizer muita coisa sobre a feiura. Trata-se tão-somente de ausência da beleza. Simples assim. Dir-se-ia mais propriamente que se trata da assimetria dos traços; da falta de propósito ou significância das cores; da desarmonia do arranjo de formas. Ok, esta é a causa. Vamos, agora, inferir sobre os seus efeitos. O feio é abominável porque gera repulsa ou gera repulsa porque é abominável? Eis o dilema da feiura! Ela simplesmente não apraz, não é, a priori, capaz de gerar prazer. Portanto, a tal “percepção de beleza” está diretamente relacionada com o prazer proporcionado, assim como a percepção de valor está diretamente relacionada à satisfação de uma necessidade.

§ 72

O estado da arte. Quem não se apraz com o ronco dos motores de uma Harley Davidson? Não é preciso ser um motociclista tarimbado para admirar e reconhecer de longe uma motoca destas quando passa ao seu lado numa rodovia. Confesso que até abro uma frestinha da janela e desligo o som só para ouvir com maior precisão o ronco possante desta “máquina dos deuses da engenharia”. Os japoneses e outros até tentaram copiar, mas por sorte o sistema patentário já naquela época privilegiava aqueles que buscam atingir a perfeição pelo pioneirismo.[*] Salve o inventor responsável pela peripécia: Sr. WILLIAM S. HARLEY, com a patente datada de 1919.1

Figura. Exemplo de beleza das coisas: motor Harley Davidson.

Era o que faltava para fecharmos o conceito de beleza: todos os sentidos no plano físico são passíveis de proporcionar prazer, até mesmo a audição! É através dos sons que, muitas vezes, nos tocam no fundo d’alma… Não é só o ronco da Harley. Quem não se comove com uma melodia ao piano de Sergei Rachmaninoff ou com o farfalhar dos eucaliptos no final de uma tarde de outono? A experiência sinestésica é peculiar a cada indivíduo. Basta abrirmos os “poros” vivendo o momento presente! Vê-se, portanto, que a beleza ou a feiura são apenas canais que vibram e ressonam (ou dissonam), proporcionando uma “ponte” que nos leva, peremptoriamente, do plano físico ao sutil e vice-versa. Eis que chegou o momento de migrarmos nossa conversa para os valores no plano sutil. Vamos lá?!


[*] Acesse a patente na íntegra em: http://www.google.com/patents/US1472068 .

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

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Saiba mais:

1. Patente US No 292,730, depositada em 25 de abril de 1919.

BELEZA versus FEIURA § 67 – 69

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§ 67

A estética do minimalismo. E como a simplicidade se encaixa nesta aparentemente complexa equação do belo? Mais uma pegadinha… Ela pode permear diversos elementos e constitui, talvez, um dos maiores segredos para se atingir a beleza das coisas e também dos seres. Seria a técnica de escolha caso queira aumentar suas chances de criar algo realmente belo um dia. Da Vinci era um estudioso da anatomia, perspectivas e proporções. E você: vai se especializar no quê? Observe o seguinte: um dos principais movimentos da estética moderna está justamente pautado no minimalismo. Escolas de design pioneiras como a de Bauhaus na Alemanha deveriam ser o ponto de partida não só para arquitetos, mas sim para qualquer um que busque a expressão da perfeição materializada no plano físico. [*]

§ 68

A beleza das cores. Sei no que vocês devem estar pensando: mas e as cores: como elas se encaixam e contribuem com esta tal fórmula da beleza? Por que ficaria de fora a técnica que fazia de ninguém menos do que Monet a mais perfeita expressão do belo?! A beleza das cores só impressiona quando dotada de significado puro. Portanto, sobre as cores, teríamos de elaborar outra fórmula muito mais complexa que a dos traços propriamente ditos. Melhor não complicarmos a “matemática das coisas” neste momento (continuo a brincadeira…). Vejam o que disse um dos mais respeitados críticos artísticos, Louis Leroy, sobre a pintura intitulada “Impressão, nascer do Sol” de Monet:

“– Eu bem o sabia! Pensava eu, justamente, se estou impressionado é por que há lá uma impressão. E que liberdade, que suavidade de pincel! Um papel de parede é mais elaborado que esta cena marinha…”

§ 69

Casa Branca versus Casa Preta. Como seria possível dotar as cores de significado? Não o é. As cores carregam, per se, significância intrínseca. Um dos poucos “gurus brasileiros” internacionalmente reconhecido, o mago e escritor Paulo Coelho, sobre as cores nos presenteou com a seguinte indagação:

“Imagine se a Casa Branca fosse chamada de a Casa Preta. Todos pensariam que ela era habitada pelo espírito da escuridão”.

Mais apropriado impossível! As cores que definem as coisas, ou as pessoas, e não o contrário. Em sua obra clássica sobre os impropérios da fama,69 Paulo nos remete a uma viagem no mundo da moda que revela o significado (e também a magia) de cada uma delas, muito embora as pessoas ainda achem que a escolha de uma cor não tenha um propósito. É puro acaso. Confesso que, desde então, passei a pensar muito mais nas cores que eu visto e pouso meus olhos…. É mais ou menos assim:

  • O branco significa pureza e integridade;
  • O preto intimida;
  • O vermelho choca e paralisa;
  • O amarelo atrai atenção;
  • O verde acalma de tudo e sinaliza concordância;
  • O azul sempre suaviza;
  • O laranja confunde.

Não é à toa, portanto, que a noiva e o papa vestem branco. Os seguranças de qualquer celebridade e os “padres” (do Vale do Silício) vestem preto, claro que com uma pequena brecha branca na gola… Quer pegadinha maior do que essa?!


[*] A Staatliches-Bauhaus é uma escola de design, artes plásticas e arquitetura de vanguarda na Alemanha. A Bauhaus foi uma das maiores e mais importantes expressões do que é chamado de Modernismo no design e na arquitetura, sendo a primeira escola de design do mundo.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

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Saiba mais:

1Coelho, Paulo. The Winner Stands Alone, Harper Collins, 2010.

BELEZA versus FEIURA § 64 – 66

#ricardobarreto #culturadevalor #valores #cultura #aforismos #beleza #feiura #obelo #estética #googletopia

§ 64

A fórmula do belo. Já tratamos o tema de forma sutil e até mesmo um pouco despretensiosa, mas tenho certeza de que valeu ao menos pela quebra do paradigma encerrado na questão.1 Agora vamos nos ater aos “traços” que definem a beleza, restringindo-nos ao plano físico palpável aos olhos de quem vê com olhos de ver… Não tenho dúvidas de que existe sim uma fórmula estética para “o belo”. Basta perscrutá-lo! Os verdadeiros artistas a sentem quase que intuitivamente, mas nossa proposição aqui se pauta pela lógica, até mesmo onde parece não haver espaço para ela… Resume-se à seguinte equação:

B = R2 . 5(S + H) + 2(13T – 7I)

Onde,

                        B = Beleza (somente a física);

                        R = Recursos (qualidade dos mesmos);

                        S = Simetria (grau de reflexão especular);

                        H = Harmonia (não cansar a visão);

                        T = Talento (capacidade inata de combinar elementos);

                        I = Imperfeições (grau de singularidade dos elementos).

§ 65

Estética do absurdo. Brincadeiras à parte, tal fórmula não existe e seria uma elucubração do empirismo estético! Apesar de existir coisa ainda pior na literatura especializada, nos recônditos acadêmicos dos pseudo-sábios que justificam sua posição por teorias sem relevância prática, seria capaz, outrossim, somente de incitar a curiosidade dos matemáticos e pouco agregaria ao entendimento das raízes que levam aos padrões mais elevados de beleza. O fato é que o belo deve partir de uma seleção apurada dos recursos, buscando a combinação perfeita de elementos para conferir, em igual proporção, tanto simetria como harmonia. Claro que o design perfeito ainda requer uma boa “pitada” de talento, mas a “pegadinha” aqui é a seguinte: sempre deve haver uma sutil imperfeição que sirva apenas para revelar nossa “baixeza” perante o Criador. Aquela tão sutil que passa praticamente imperceptível aos olhares menos atentos. Quase como se fosse um teste para averiguar a habilidade de quem a aprecia. Da Vinci era o mestre destes truques do ilusionismo em suas pinturas e, diga-se de passagem, de muitas outras coisas.2 Pena que ao longo da história muito poucos terão olhares tão apurados como um Steve Jobs ou um Michelangelo.  

§ 66

Googletopia. Vamos a um exemplo prático e atual de aplicação desta tal “fórmula utópica” do belo. Nada mais simples e efetivo do que a primeira página do mecanismo de busca que revolucionou a internet: o Google. Todos conhecem a “brincadeirinha” com a logomarca da empresa na barra de buscas, em especial nas datas comemorativas. Vejam com atenção o exemplo a seguir. Notem os padrões de simetria da letra, a harmonia dos tamanhos, as imperfeições ao fundo, a sutileza de posicionamento dos objetos do cenário e, claro, o talento para combinar tudo isto de forma única numa logomarca que simplesmente não sai da nossa cabeça! Alguém por acaso conseguiria ficar enjoado ao abrir seu navegador de internet todo santo dia e se deparar com uma figurinha tão bela e instigante como esta?!

Figura. Exemplo de beleza das coisas: a homepage do Google.

            Confesso que, por algum motivo de caráter mais subliminar, sinto até um certo toque de felicidade ao contemplar tal figurinha, mais precisamente aquela usual e toda coloridinha… Tamanha simplicidade, mesclada com um tremendo nível de perspicácia na combinação de elementos e cores, realmente é para poucos. Reflete muito bem a ideologia de vida de Larry Page, um de seus fundadores e criador do algoritmo que pode ser considerado um dos mais importantes dos nossos tempos!

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

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Saiba mais:

1. Ibid.

2. Walter Isaacson, Leonardo da Vinci, 1a ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2017.