VERDADE versus EGOCENTRISMO – 133 – 135

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§ 133

De perseguidos a perseguidores. Em muitas das passagens da vida de Jesus, registradas no Novo Testamento, ele se dirigia aos apóstolos ou aos gentios, com a autoridade do Messias: “Em verdade, em verdade vos digo…”. Segundo a ortodoxia da Igreja Católica Apostólica Romana, esta é a autoridade do Espírito Santo, o próprio Deus na figura humana, base do dogma da santíssima Trindade, sacramentado com o aval do imperador Constantino no concílio de Nicéia. Independente das histórias que relatam um sonho inspirador que o levou à vitória no campo de batalha, estava ele certamente mais interessado é na unificação do império, de modo que outra estratégia não seria mais apropriada do que aceitar e propalar o cristianismo como a “única Verdade imperial”, unificando os povos de diferentes culturas sob a égide de uma crença que os distinguia do paganismo vigente na época. Deu tão certo, que de perseguidos os bispos, em nome do poder eclesiástico e num curtíssimo espaço de tempo, se tornaram perseguidores e dos mais sanguinários de toda a história! Foge ao nosso propósito discorrer sobre a história do cristianismo, mesmo que nos ajude a entender como a “verdade” de outrora foi travestida de heresia, em nome do santo graal,1 mas que sirva ao menos de exemplo para que nos atentemos ao verdadeiro significado de verdade.    

§ 134

As nobres verdades. Na verdade, não há uma única verdade e sim, segundo o Buda histórico, são 4 as nobres verdades…2 Ele chegou a essa conclusão após sua suprema iluminação, quando teve plena compreensão daquele que seria o pilar de todos os seus ensinamentos, a saber:

I. Viver é sofrer. Como seres sencientes, sujeitos a apegos e aversões, sofremos desde o instante em que nascemos, amadurecemos, envelhecemos e morremos. Então, renascemos e o ciclo de sofrimentos se repete. Esta é a primeira nobre verdade do Buda.

II. Sofrer é desejo e ignorância. Mas tudo que nos acontece de ruim só pode se originar do anseio em satisfazer prazeres ou, por assim dizer, da falta de conhecimento que dá guarida à ilusão. Esta é a segunda nobre verdade do Buda.

III. Satisfazer é abster-se. Somente pela renúncia de todos os prazeres e ilusões que se é possível atingir a cessação do sofrimento. Claro, isto quer dizer que a independência do ser perpassa pela liberdade dos estados criados pela própria mente. Esta é a terceira nobre verdade do Buda.

IV. O caminho leva à renúncia. Só existe um caminho que nos leva à renúncia, o qual deve ser percorrido com perfeição. O resultado é um só: o Nirvana, em sânscrito, a libertação ou absoluta sabedoria. Esta é a quarta nobre verdade do Buda.

§ 135

O caminho óctuplo. O que mais encanta no budismo é a simplicidade. Tudo se resume numa única fórmula para se alcançar a moralidade, meditação e compreensão intuitiva. Seria muito fácil apenas enunciar as 4 nobres verdades, sem apontar como colocá-las em prática. Buda foi além! Vivia seus preceitos e, ao mesmo tempo, era um exímio professor. Seus ensinamentos eram pautados por histórias que cativavam seus discípulos e, ao mesmo tempo, levavam a uma profunda reflexão. Também gostava de sintetizar os conceitos na forma de guias, como o fez ao traçar o caminho óctuplo para se atingir a quarta nobre verdade, qual seja:

  1. Entendimento correto;
  2. Pensamento correto;
  3. Linguagem correta;
  4. Ação correta;
  5. Modo de vida correto;
  6. Esforço correto;
  7. Atenção plena correta;
  8. Concentração correta.

Seus ensinamentos eram tão poderosos que no seu último ano de vida Buda já acumulava centenas de discípulos diretos. A simples presença de um ser iluminado em nosso planeta é um evento tão grandioso quanto a maior de todas as verdades.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo VALOR: desvendando conceitos e quebrando mitos

VOLUME II – CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

Saiba mais:

1. Bruce Shelley, História do cristianismo: Uma obra completa e atual sobre a trajetória da igreja, Thomas Nelson Brasil, 1ª ed. 2018.

2. Dhammapada: caminho da lei, doutrina budista ortodoxo em versos, trad. Dr. Georges da Silva, 1a ed. 1979.

PAZ versus CONFLITOS § 91 – 93

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§ 91

Desejo versus apego. Nem todo desejo é prejudicial ao ser. Na verdade, o desejo quando “puro” é louvável e nos traz felicidade verdadeira. A distinção é muito tênue e se dá justamente pela capacidade ou não de controle sobre o mesmo. Ou seja, quando um desejo é tão intenso que a nossa mente simplesmente não consegue evitá-lo, o mesmo é considerado apego, algo que alimenta o nosso Ego e precisa ser evitado. Já o desejo, se pautado por propósitos geradores de valor, é sutil e perene, sem compulsão e naturalmente recompensado. Via de regra é fonte de regozijo da alma, nossa verdadeira essência divina. Sob esta ótica, portanto, a origem de tal “erupção” dos sentidos, citada anteriormente, decorre sempre de um conflito consciencial, “algo” com que nos deparamos no intercurso existencial que se opõe ao nosso “sistema de crenças” vigente. Isto mesmo, não se enganem, tudo começa na primeira etapa do ciclo da cultura de valor.

§ 92

Desapego versus aversão. Gosto tanto do budismo, em especial pela dualidade de alguns dos seus conceitos que são muito simples, mas nunca tão óbvios quanto os dois lados da mesma moeda… Se o apego é ruim, logo o desapego não o é. No entanto, este não pode se confundir com aversão que é a outra grande causa do sofrimento humano, geradora de conflitos e aniquiladora do estado de paz interior que tanto perseguimos. A sabedoria reside na equanimidade. Trocando em miúdos, seria atribuir a “dose correta” de cada um desses atributos e no momento certo! Pense comigo. Se somos desejosos de “algo” que nos apraz, também experimentamos a sensação contrária sobre algo que nos perturba, certo? Isto é o que chamamos de aversão. Pode ser referente a uma pessoa, ou uma situação corriqueira, um fato político, uma traição, uma briga em família, o cachorro do vizinho, o time de futebol e até mesmo um simples objeto imperfeito. Ah, são tantas as coisas que nos perturbam… Vamos refletir sobre o que se passa em nossa mente para encontrarmos uma maneira de evitar tamanha suscetibilidade aos fatos que, muitas das vezes, não deveriam nos aborrecer. São meras “externalidades”, fora do nosso campo de controle. Na verdade, a origem é simplesmente o “gatilho” de uma reação em cadeia que tem sua causa primária na imperfeição do sistema de crenças do próprio indivíduo, podendo evoluir para obsessões ou fobias patológicas, algo que pensamos sistematicamente e pode comprometer sobremaneira o ciclo da cultura de valor.

§ 93

Psicologia do si mesmo. Vejamos o caso mais simples. Como um mero objeto poderia ser a causa de um conflito existencial? Verdade seja dita: o fato é muito mais comum do que imaginamos. Imagine uma dona de casa que teve sua infância marcada por um lar desestruturado, sem hora para comer, sem hora para dormir, sem privacidade, um entra e sai de gente que nem se conhece direito, enfim, um verdadeiro pardieiro! Depois de adulta, já levando sua vida de forma independente, qual seria a sua “auto defesa” natural? Muito provavelmente acreditaria que sua felicidade se baseia numa vida regrada, com a casa extremamente organizada, os filhos impecáveis na mesa para refeição em família, o marido barbeado e comprometido com a manutenção do lar. Agora imaginem como ficaria o humor desta mesma dona de casa se o seu filho fosse um verdadeiro “pestinha” e que o sofá da sala não durasse mais que 6 meses sem um rasgo de ponta a ponta ou uma mancha de chocolate do tamanho de uma almofada! Eis um exemplo de como um objeto (neste caso o sofá) pode ser o estopim para uma crise de pânico genuína. Sua crença de que uma “vida organizada”, extremamente regrada, previsível e estável, contrária a tudo o que sofreu em sua infância, pode ser abalada por uma criança hiperativa que só estava extravasando sua energia excessiva no sofá da sala. Veremos agora como esta mesma dona de casa poderia se livrar do “trauma do sofá” sem passar pela via crucis dos psicólogos barbitúricos…

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

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