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§ 49
Humildade de pensamento. Eis um exemplo da boa aplicação da inteligência. Cursava ainda o primeiro ano do colegial técnico (num curso de química industrial da região de Campinas, SP) e o professor de matemática era daqueles barbudos, de ar judaico-cristão, com alguma empáfia, porém simpático o suficiente para cativar a atenção dos alunos mais exíguos por, ao menos, alguns minutos… Tal figura costumava lançar desafios ao final da aula, daqueles que servem só para desestimular ainda mais os que não tinham entendido sequer a matéria do dia, “cuspida” na lousa como se fosse algo trivial demais para sua posição intelectiva. Isto porque eram problemas extraídos das últimas edições das olimpíadas de matemática, muito longe de um enigma de Poincaré! [*] Acontece que, ao meu lado sentava-se um certo aluno genial. Sem que ninguém notasse, ele resolvia todos os problemas em questões de segundos e ficava bem quietinho para que os demais não percebessem. Dá para acreditar?! E aquele professor ainda se regozijava ao copiar a solução na lousa como se fosse uma conquista de Apolo diante do Oráculo de Delfos… Santa ignorância! A humildade de pensamento é certamente uma das mais belas conquistas daqueles que galgaram o verdadeiro saber.
§ 50
Dataísmo: o novo paradigma. Já parou para pensar como a inteligência artificial está tomando conta de tudo que nos rodeia? Se você ainda não sabe que raios é um algoritmo e para que serve, então chegou o momento de correr atrás do prejuízo porque o mundo que se descortina já é daqueles que dominam a capacidade de compreender e desenhar algoritmos. Foi o historiador israelita de Oxford, Yuval N. Harari, quem nos brindou com uma visão mais prática e ao mesmo tempo fatalista do dataísmo,1 mostrando sua emergência de duas das principais torrentes do conhecimento científico: primeiro a eclosão pós-Darwin dos “algoritmos bioquímicos”, seguida algum tempo depois com Alan Turing desvendando o fenômeno da computação e o nascimento dos “algoritmos eletrônicos”. Independente do que você pensa ou possa vir a pensar sobre o tema, ninguém pode negar que a barreira entre máquina e os animais já foi transposta. E o que muitos religiosos ortodoxos temiam já aconteceu: os algoritmos eletrônicos decifraram e já estão superando os algoritmos bioquímicos em muitas aplicações! Eis a síntese do novo paradigma a que todos deverão se submeter, independente de visão religiosa:
O universo consiste num fluxo de dados e o valor de qualquer fenômeno ou entidade é determinado por sua contribuição ao processamento de dados.
§ 51
Desvendando a hiperconsciência. Acredito piamente na existência de certos conhecimentos avançados que a humanidade sequer perscrutou. Neste século despertamos para a cultura da colaboração em massa,2 articulados por meio de redes sociais, os seres humanos dispõem de mecanismos de interação nunca antes vistos para a propagação de informações. Inúmeras plataformas colaborativas foram criadas na internet num ritmo que põe em risco a nossa própria capacidade de processamento. Fato é que este fenômeno está promovendo uma verdadeira revolução do conhecimento! E ainda estamos somente no início desta que tem sido chamada a Era da Informação. No entanto, este foi só mais um passo na busca da tão almejada transcendência. Um dia não serão mais necessários dutos de fibra ótica para trafegar a informação e muito menos protocolos formais para navegar no emaranhado de dispositivos computacionais. Outrossim, a limpidez do pensamento, alcançada só nos estados meditativos que propiciam a conexão instantânea entre consciências. Pasmem: fato é que o primeiro caso de telepatia entre seres humanos já foi relatado recentemente na literatura científica através de sofisticados mecanismos de interface cerebral.3 Ao estado de “conexão consciencial”, quando estabelecida uma rede de comunicação em larga escala com o propósito de gerar, receptar e propagar conteúdos relevantes para formação do conhecimento cósmico ou imanente, chamamos hiperconsciência. A “Internet das Coisas” (IoT – the internet of things) é só um passo rumo à grande revolução da IoC ou a “Internet das Consciências”. Para que precisamos de computadores se podemos nos conectar uns aos outros pela mente e na velocidade do pensamento? Voilá!
[*] Conhecida como a conjectura de Poincaré, foi formulada em 1904 pelo matemático francês Henri Poincaré e resolvida, anonimamente, pelo matemático russo Grigory Perelman em 2002.
Créditos:
Autoria por Ricardo Barreto
Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena
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Saiba mais:
1. Harari, Yuval Noah, HOMO DEUS: uma breve história do amanhã, 1a ed., São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
2. Tapscott, Don, Wikinomics: como a coloboração em massa pode mudar o seu negócio, Rio de Janeiro, Nova Fronteira: 2007.
3. A Direct Brain-to-Brain Interface in Humans, Rajesh P. N. Rao et al. PLOS one, 9 (11), 2014.