PAZ versus CONFLITOS § 91 – 93

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§ 91

Desejo versus apego. Nem todo desejo é prejudicial ao ser. Na verdade, o desejo quando “puro” é louvável e nos traz felicidade verdadeira. A distinção é muito tênue e se dá justamente pela capacidade ou não de controle sobre o mesmo. Ou seja, quando um desejo é tão intenso que a nossa mente simplesmente não consegue evitá-lo, o mesmo é considerado apego, algo que alimenta o nosso Ego e precisa ser evitado. Já o desejo, se pautado por propósitos geradores de valor, é sutil e perene, sem compulsão e naturalmente recompensado. Via de regra é fonte de regozijo da alma, nossa verdadeira essência divina. Sob esta ótica, portanto, a origem de tal “erupção” dos sentidos, citada anteriormente, decorre sempre de um conflito consciencial, “algo” com que nos deparamos no intercurso existencial que se opõe ao nosso “sistema de crenças” vigente. Isto mesmo, não se enganem, tudo começa na primeira etapa do ciclo da cultura de valor.

§ 92

Desapego versus aversão. Gosto tanto do budismo, em especial pela dualidade de alguns dos seus conceitos que são muito simples, mas nunca tão óbvios quanto os dois lados da mesma moeda… Se o apego é ruim, logo o desapego não o é. No entanto, este não pode se confundir com aversão que é a outra grande causa do sofrimento humano, geradora de conflitos e aniquiladora do estado de paz interior que tanto perseguimos. A sabedoria reside na equanimidade. Trocando em miúdos, seria atribuir a “dose correta” de cada um desses atributos e no momento certo! Pense comigo. Se somos desejosos de “algo” que nos apraz, também experimentamos a sensação contrária sobre algo que nos perturba, certo? Isto é o que chamamos de aversão. Pode ser referente a uma pessoa, ou uma situação corriqueira, um fato político, uma traição, uma briga em família, o cachorro do vizinho, o time de futebol e até mesmo um simples objeto imperfeito. Ah, são tantas as coisas que nos perturbam… Vamos refletir sobre o que se passa em nossa mente para encontrarmos uma maneira de evitar tamanha suscetibilidade aos fatos que, muitas das vezes, não deveriam nos aborrecer. São meras “externalidades”, fora do nosso campo de controle. Na verdade, a origem é simplesmente o “gatilho” de uma reação em cadeia que tem sua causa primária na imperfeição do sistema de crenças do próprio indivíduo, podendo evoluir para obsessões ou fobias patológicas, algo que pensamos sistematicamente e pode comprometer sobremaneira o ciclo da cultura de valor.

§ 93

Psicologia do si mesmo. Vejamos o caso mais simples. Como um mero objeto poderia ser a causa de um conflito existencial? Verdade seja dita: o fato é muito mais comum do que imaginamos. Imagine uma dona de casa que teve sua infância marcada por um lar desestruturado, sem hora para comer, sem hora para dormir, sem privacidade, um entra e sai de gente que nem se conhece direito, enfim, um verdadeiro pardieiro! Depois de adulta, já levando sua vida de forma independente, qual seria a sua “auto defesa” natural? Muito provavelmente acreditaria que sua felicidade se baseia numa vida regrada, com a casa extremamente organizada, os filhos impecáveis na mesa para refeição em família, o marido barbeado e comprometido com a manutenção do lar. Agora imaginem como ficaria o humor desta mesma dona de casa se o seu filho fosse um verdadeiro “pestinha” e que o sofá da sala não durasse mais que 6 meses sem um rasgo de ponta a ponta ou uma mancha de chocolate do tamanho de uma almofada! Eis um exemplo de como um objeto (neste caso o sofá) pode ser o estopim para uma crise de pânico genuína. Sua crença de que uma “vida organizada”, extremamente regrada, previsível e estável, contrária a tudo o que sofreu em sua infância, pode ser abalada por uma criança hiperativa que só estava extravasando sua energia excessiva no sofá da sala. Veremos agora como esta mesma dona de casa poderia se livrar do “trauma do sofá” sem passar pela via crucis dos psicólogos barbitúricos…

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

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