Qual é o verdadeiro significado do verbo inovar? Segundo os dicionários, o termo vem do latim innovare e significa:
“1. Tornar algo novo; 2. Introduzir novidade”.
Fica uma reflexão: será que nos dias de hoje, após vivenciarmos séculos de revolução científica e tecnológica, ainda existe muito o que se inovar?
Para respondermos a esta indagação precisaremos entender, antes de mais nada, sua sistemática.
Ao considerarmos o processo de inovação como um todo, segundo a lógica do sistema econômico em que se encontra inserido, pode-se constatar que não existe mais mercado exclusivo, mesmo para os nichos recém criados, aqueles chamados por Chan Kim e Reneé Mauborgne de “oceanos azuis”.
Sempre aparecem outras empresas oferecendo produtos similares: a tão conhecida concorrência. Com ela gera-se a competição, sendo que esta pode ser regida por diferentes mecanismos, conforme abordado por Contador em sua obra sobre a competitividade nas indústrias:
- Competição em preço;
- Competição em produto;
- Competição em prazo;
- Competição em assistência;
- Competição em imagem.
Outra forma de diferenciação, aplicada tanto a produtos quanto a serviços, foi classificada por Utterback, ao distinguir dois tipos de inovação tecnológica: a incremental e a radical.
A inovação incremental procura a melhoria de uma tecnologia já existente. Por outro lado, a inovação radical pressupõe uma descontinuidade na curva de desempenho de um produto ou serviço, gerando um novo patamar tecnológico.
Um caso clássico foi o Macintosh da Apple que surgiu com uma interface gráfica revolucinária e dominou o market share dos computadores pessoais que era império da gigante IBM no início da década de 1980.
Este conceito foi amplamente desenvolvido por Clayton Christensen, professor da conceituada escola de negócios americana, Harvard Business School, naqueles que considero os melhores livros de inovação de todos os tempos: The Innovator’s Dilema e The Innovator’s Solution.
Nestes trabalhos a inovação incremental e a inovação radical (também denominadas de inovação de sustentação e inovação disruptiva) são visualizadas através das chamadas “curvas S” pela comparação da evolução do desempenho de um produto estabelecido no mercado e de um produto invasor baseado numa nova tecnologia.
Pode-se ressaltar um outro exemplo do surgimento de uma tecnologia disruptiva que simplesmente destruiu a tecnologia predecessora. Foi o caso das câmeras digitais que se mostraram significativamente superiores às câmeras óticas convencionais.
O efeito desta novidade foi uma verdadeira revolução na maneira como as pessoas registram suas fotos, provocando demissões maciças nas empresas que antes dominavam o mercado, como é o caso da Kodak, ou até mesmo o fim de empresas consagradas como a Minolta (o pior é que mais recentemente as câmeras digitais foram, por sua vez, dizimadas pelos smartphones com seu megapixels embutidos).
O elemento essencial que impulsiona a inovação nas organizações empresariais é a criação de algo novo em pelo menos um dos quesitos competitivos do produto com relação aos concorrentes, alterando de forma significativa sua curva de valor.
Strebel demonstra este princípio através de um processo cíclico de competição, fundamentado em mecanismos de diferenciação e igualação, o qual pode ser adaptado para competição em produtos tecnológicos.
O ciclo virtuoso do processo de competição, em que os lucros são muito superiores aos custos devido à baixa inserção concorrencial, é promovido inicialmente pela inovação tecnológica, capaz de diferenciar significativamente o desempenho.
A lucratividade é sustentada pelo marketing que explora o poder da marca até o limite imposto pela pressão dos concorrentes entrantes neste mercado. Os preços começam, então, a cair drasticamente, culminando numa redefinição estratégica, que pode resultar na venda da empresa (ou da tecnologia) ou no surgimento de um novo ciclo, se for introduzida uma nova inovação radical.
Uma analogia com a teoria da evolução de Darwin, propalada por Nelson & Winter, ressalta a importância da adaptação ao meio para sobrevivência por parte das empresas inovadoras. Neste sentido, pode-se identificar a ferramenta de benchmarking como um importante mecanismo de defesa.
Um exemplo desta abordagem, ao procurar mimetizar tecnologias já existentes, foi praticado pela empresa americana Xerox, que buscou inspiração nos competidores japoneses para promover uma profunda mudança estrutural.
Conforme já apontado por Schumpeter em 1943, a inovação é uma constante fonte de turbulência e, por este motivo, as empresas devem investir maciçamente em mecanismos de diferenciação fundamentados na inovação tecnológica.
Autoria por Ricardo Barreto
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Permitida a reprodução mediante backlink para ricardobarreto.com
Para saber mais:
Barreto, R. ittiNomics: um guia especial para inovação aberta, 2016.