#ricardobarreto #filosofia #netica
Vimos no primeiro post da série (vide Netica – parte I) que estão abertos, com todos estes avanços advindos da rede mundial de computadores, tempos altamente profícuos à disseminação da cultura.
Todavia, urge que estas questões passem pelo crivo da ética na internet, a qual chamamos aqui de netica, e que deve estar presente de forma ubíqua e sem distinções…
Este é um assunto altamente estratégico ao desenvolvimento das nações, sendo que a “inclusão digital” pode significar o acesso amplo e irrestrito à “educação autodidata”, rompendo os liames que ao longo de toda a história da humanidade separaram as classes sociais…
Alguns países mais avançados já estão inclusive dando para as crianças um laptop (ou tablet e, daqui a pouco, sei lá!) e oferecendo acesso gratuito à internet em praças e prédios públicos. Fica patente, portanto, a importância do momento social que estamos vivenciando, de modo que vamos procurar nos ater um pouco mais sobre um dos principais “agentes” destes novos tempos: os hackers.
Hackerismo
Segundo o próprio Linus Torvalds, prefaciador de um interessante livro de Pekka Himanen, um hacker é:
Uma pessoa para quem o computador já não é um meio de sobrevivência.
Esta definição foge completamente ao sentido vulgar, empregado com tanta frequência nos meios de comunicação, segundo o qual o hacker seria uma espécie de “pirata da Internet” que se aproveita das suas habilidades em programação para invadir sistemas, roubar informações confidenciais e delas se beneficiar financeiramente, infringindo as leis vigentes ou não…
Este é um novo tipo de crime que vem ganhando proeminência nos últimos anos em nossa sociedade com o advento da internet e a sua popularização. Muitos países já até adaptaram suas leis de modo a incluir em seus códigos penais as infrações por falta de conduta ética no “mundo das relações virtuais”.
Muito embora todos estes esforços sejam louváveis e, até certo ponto, naturais, quero mover o objeto das nossas reflexões para o sentido mais amplo da palavra hacker… Vejamos.
A nova ética do trabalho
Fiquei surpreso ao descobrir que esta palavra também pode se referir a qualquer outra atividade e não somente ao “universo dos programadores de computador”… Seria, assim, muito melhor considerar o seu significado como sendo uma “postura de trabalho” e não uma atividade específica.
Segundo Pekka, o trabalho deve ser encarado como algo interessante e desafiador. Deste modo, ele se torna uma diversão, bem diferente da forma como era encarado por Max Weber no seu clássico A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Também não significa que as pessoas devam se tornar verdadeiros workaholics…
Só se ganha “valor de verdade” ao minimizar o tempo que jogamos no “lixo” com coisas fúteis… E como tem coisa fútil hoje em dia!
Esta nova “ética do trabalho” tem uma relação direta com o tempo livre, ou o chamado “Ócio Criativo” já mencionado anteriormente. O mais importante é saber que todo hacker assume, via de regra, uma postura de liberdade com relação ao tempo e dinheiro, o que lhe confere maior autonomia, motivação e criatividade.
Epa! Agora o famoso ditado que diz “tempo é dinheiro”, já não soa tão mal… Parece até contraditório falar de “tempo livre” numa sociedade tão dinâmica e imediatista quanto a nossa, em que as pessoas não têm tempo sequer para curtir a família! Isto porque a “cultura capitalista”, sem sombra de dúvidas, requer agilidade nas decisões.
O Taylorismo, como método clássico de otimização do tempo, nunca teve tamanha força, visto que a competição num mercado global, movido pelo desenvolvimento tecnológico e o marketing digital, é das mais acirradas em toda a história da civilização, mesmo que a emergência da “economia colaborativa” tenha mudado um pouco a sua cara… Salve o conceito de growth hacking!
O hacker, portanto, se tornou uma figura vital ao progresso da sociedade pós-moderna, praticamente seu ícone! Diriam alguns mais empolgados como eu… [rss]
Sem preocupar-se sobremaneira com a “questão do dinheiro” que para ele é uma simples ferramenta para o progresso e não o motivo das suas ações, o hacker se exime, em grande parte, de um dos maiores bloqueios do homem moderno: a ansiedade.
Livra-se, assim, da insegurança e ganha confiança para trabalhar sem amarras, livre das tensões reprobatórias, responsáveis diretas pelos estados depressivos que têm afligido cada vez mais vítimas na sociedade pós-moderna, abarrotando os consultórios psiquiátricos, quando não o consolo em terapias ilusórias de auto-ajuda…
Tudo isso nos remete a uma séria indagação: será que tanta informação contribui efetivamente para nossa felicidade?
Bem, esta é uma reflexão pessoal a que todos deveriam se submeter para melhor inserção na chamada “Era da Informação” que está repleta de oportunidades…
Mas, enquanto não temos estas respostas, nem tampouco apareça alguma outra grande revolução tecnológica (como foi a internet) que venham então mais Linux, Torvalds!
Créditos:
Autoria por ricardobarreto.com
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Saiba mais:
- Barreto, R. L. ÉTICA EVOLUCIONISTA: a razão da moral, 1a ed., Editor-Autor, 2008.
- Pekka Himanen, A Ética dos Hackers e o Espírito da Era da Informação, 2001, Editora Campus.
- Weber, Max, A ética Protestante e o Espírito Capitalista, São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
- De Masi, D. O Ócio Criativo, Rio de Janeiro: Sextante, 328 p., 2000.